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domingo, 11 de março de 2012

Organizando um sucatário

"Do mesmo modo que uma biblioteca se compõe de livros, o sucatário é um acervo de sucata, organizada e classificada. Sucata é qualquer coisa que perdeu seu uso original, que se quebrou, que não serve mais ou que não tem mais significado... Coisas aparentemente inúteis, mas que servem para brincar, para dar nova forma e novo sentido. (Sucata é tudo e é nada)
Para montar um sucatário é preciso começar a coletar sucata. Outro requisito é ter espaço, desde uma gaveta, apenas, até algumas prateleiras, um armário ou uma salinha. Depois de resgatado e limpo o material, passa-se a oranizá-lo, de acordo com o espaço disponível.
Uma vez por mês, por eemplo, podemos passar para buscar "preciosidades" no marceneiro (toquinhos e ripas de madeira); na costureira e na malharia (pedacinhos de tecido, lã e linha, carretéis e bobinas), no pediatra (caixinhas de amostra de remédios e folhetos de propaganda dos mesmo, conta-gotas, tubos de esparadrapo...) Crianças maiores e adolescentes também podem comprometer-se a fazer essas visitas mensais.
Esssa proposta requer envolvimento por parte das pessoas interessadas em montar o sucatário: é diferente de ir guardando devagarzinho "sucata caseira" (caixinhas de fósforo e palitos de fósforos riscados, rolhas, embalagens de todos os tipos). De fato, o tamanho do sucatário e sua variedade e diversidade devem estar de acordo com os objetivos de quem dele se utilizará.
Para o educador e para o profissional da área de aretes, é preciso alguma paciência e disciplina para montar um bom sucatário. Isso porque tudo o que está sujo e empoeirado precisa ser limpo, para então ser separado, dividido, classificado. Sempre oservando se: o material resgatado é atóxico? Não oferece risco para quem dele se utilizará? Ninguém vai guardar latas enferrujadas ou tubos de ensaio partidos, não é?
O sucatário deve ser sempre limpo e esteticamete bonito, tão "belo" e "nobre" quanto um varal de papéis de seda colorido ou retalhinhos de papel camurça. Que seja agradável de tocar, que seja estimulante e sugestivo, atraente, e dê vontade de mexer, usar, sentir, pensar e ter idéias para brincar, trabalhar, esburacar e transformar.
Outro jeito de fazer a coleta de sucata é por fases. Trabalhando com crianças e adolescentes, o educador pode fazer listas de sucata para ser trazida, por exemplo, de acordo com as estações do ano. Caroços de frutas da época, flores e folhas secas, paina, pinhas e cascas de nozes.
No verão, cabe coletar palitos de sorvete, embalhagens de creme e bronzeador, tampinhas de regrigerante. Assim propomos também, além de coleta de materiais de sucata, uma maior observação do meio ambiente e das pessoas, dos ritmos da cidade e da natureza, resgatando uma linguagem lúdica e poética associada ao trabalho.
Na verdade, o importante é ter prazer nesse trabalho e encontrar um estilo próprio, seja na coleta, seja na organização.
Pode ser interessante começar a separar primeiro pelo tipo de material: isopor, papel, madeira, lata, plástico, e asssim por diante. Feita essa grande separação, pode-se partir para uma separação mais sutil: madeiras grandes/madeiras médias/madeiras pequenas. Para depois passar a fazer pequenos subgrupos. No grupo de madeiras médias, separar pelas formas: quadrados, retângulos, varetas, palitos, rodinhas. Todos esse trabalho pode ser feito como um jogo de aproximação e afastamento, agrupamento e separação, com o grupo que se interessar a gostar de brincar dessa maneira.
Pouco a pouco, podemos aderir a subdivisões cada vez mais sutis - e esse é um trabalho que leva a área de artes para a matemática, e vice-versa. Poderíamos, no setor de papéis, separar papéis grandes e papéis pequenos; nesses dois grupos, fazer a separação por cores; mais tarde em cada cor encontrar tonalidades e texturas diferentes! Existe também um conteúdo filosófico e afetivo nesse trabalho, quando as crianças percebem que o igual pode ser também diferente; que parecido não é igual; que cada pedacinho de papel é único e poderia se tornar diferenciado por suas características não imitáveis (um rasgo, uma forma maluca, uma mancha de tinta, enfim, pois não estamos lidando com folhas inteiras e "zero-km" mas sim com usadas, coladas, pregadas, amassadas até, que as crianças vão descolar, despregar, desamassar par acolar, pregar e amassar novamente como quiserem.)"

Marina M . Machado, O brinquedo - sucata e a criança, p.26-28,36,37)

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